segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Resenha #194 - Distrito Federal (Luiz Brás)


"Distrito Federal" é um autodenominada rapsódia de Luiz Brás que saiu pela editora Patuá em 2014. A rapsódia é narrada como épico em frases separadas. Acompanhamos um curupira, ou a sombra do que um dia foi um, que encarna em um ser humano, passando a trilhar um caminho de vingança contra os político e corruptos caçando e matando um de cada vez, não importa quantos sejam. Eles não podem escapar pois o curupira (que é também um ciborgue) os detecta através de um cheiro terrível que eles exalam e apenas o curupira sente. Ele vem de um cerrado praticamente eliminado pela destruição do meio ambiente como um espírito vingativo. É o cheiro que o incomoda e não qualquer senso ético que o guia. No seu caminho vamos cruzar com vários outros personagens e acontecimentos que vão deixar a história ainda mais carregada de simbologias que vão exigir mais atenção do leitor.

O primeiro é a própria voz narrativa que conversa com o curupira, colocando a narrativa em segunda pessoa, e este nos revela sua identidade apenas nos momentos finais do livro. Outro personagem é o Saci que tem a mesma sede de sangue mas não segue o padrão do curupira e cumpre um papel de oposição e complemento em vários sentidos. Também temos Moema que é uma obtusa (pessoa não-corrompida), que joga um MMORPG chamado Distrito Federal, ao qual ela envolve-se e acumula poder até que ela não é mais reconhecida pelos seus parentes e amigos. Uma menina-menino, que é salva por uma entidade esfera-cubo-pirâmide, que vemos na segunda parte. Outro destaque é a própria cidade que eleva-se a forma de criatura viva num dos momentos mais épicos do livro.

A linguagem é o ponto que tanto pode ser um atrativo ou pode ser um motivo para não ler a obra. A minha experiência com o discurso indireto livre (principalmente Saramago) não é muito boa, porém a forma épica, não apenas na história, mas na escrita dividida em frases de um ou dois períodos, acabou facilitando bastante a leitura para mim. Como pode se esperar de uma narrativa épica, temos construções líricas que nem sempre conseguiremos entender imediatamente, porém as coisas começam a ficar mais fáceis a partir do segundo terço do livro e a história passa a nos recompensar pelas esperas. Distrito Federal é um aviso, um grito selvagem em forma de linhas cantadas. A narrativa em estilo pós-moderno na FC é algo muito positivo porque a forma não costuma ser uma preocupação dos autores e leitores e já estava na hora de aparecer nas obras e Distrito Federal mostra que não precisamos esperar uma obra de fora para isso.

Esta resenha tem versão em vídeo no Diário de Anarres!



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