"Vislumbres de Um Futuro Amargo" é uma antologia da Agência Magh, agência editoral independente que promoveu essa antologia por financiamento coletivo no Catarse, na qual eu participei. Infelizmente demoro para ler os livros e ainda mais para publicar minha opinião sobre eles, mas isso não diminuiu minha satisfação com a leitura. São seis contos de autores que já tive algum contato prévio.
A introdução de Roberto de Sousa Causo detalha bastante as bases desta antologia e anuncia muito bem os contos. O futuro amargo que nomeia a antologia é uma forma de colocá-la entre a distopia e utopia. São futuros amargos pois mostram a humanidade cometendo os mesmos erros, apesar da alta tecnologia.
Antônio do Outro Continente (Anna Martino) se passa na Terra e nas colônias espaciais, estabelecidas em satélites artificiais. A autora entrelaça muito bem a simples história de dois jovens que se apaixonam e tem de lidar com as diferenças culturais. O conto é muito competente em desenvolver os personagens e as diferenças na vida cotidiana nas colônias com a Terra. Quando o conto termina, ficamos com vontade de saber como continua a vida, mas como a vida, ela sempre continua. Achei acertado o final, meio repentino.
Corra, Alícia, Corra (Lady Sybylla) Acompanhamos Alícia, em uma verdadeira corrida pela liberdade. Ela vive em uma instalação e nunca viu o exterior, sabendo somente do que Bianca lhe conta. O conto desenvolve bem o mistério, mas é focado na corrida e pelos sentimentos da protagonista. O final é amargo como o título da antologia, que não me deixa mentir.
Waldson Souza (Eletricidade em suas veias) nos brinda com um conto afrofuturista em que acompanhamos uma criatura artificial colocada para viver na Terra, por um membro de uma raça ancestral. O androide é feito com pele negra o que muda as suas vivências no nosso planeta e se torna veículo de reflexões muito relevantes. Tem uma pegada de Homem Bicentenário, de Asimov, mas escrito para leitores deste século. Meu conto favorito do livro.
Eu, algorítimo (Lu Ain-Zaila) Também trilhando o caminho do afrofuturismo, Lu Ain-Zaila traz uma aventura que entrelaça-se com reflexões que poderiam estar em uma crônica. Acompanhamos Aija, uma cyberativista que é perseguida pelos moradores da sua cidade a mando de uma misteriosa entidade cibernética. O conto é interessante tanto pelo desenvolvimento, e as reflexões, quanto pela aventura. Li devorando as páginas.
O Pingente (Cláudia Fusco) conta a história pelo ponto de vista de uma inteligência artificial responsável por cuidar de uma criança humana e acompanhar seu desenvolvimento. O conto tem um clima de história de Black Mirror, em que aguardamos o momento em que tudo vai dar muito errado, mas o conto toma a trajetória de um drama mais pé no chão, ao invés de um gore para chocar o leitor no final.
Roberto Fideli (SIA está esperando) tudo começa com uma space ópera em que um desastre numa nave leva os sobreviventes a lutarem pela vida em um planeta inóspito e desconhecido. Acompanhamos essa luta pelo olhar da inteligência artificial embarcada na nave, chamada SIA. O conto prende pelos desdobramentos que mudam tudo na história e a deixam muito interessante, sem ficar forçado. Excelente encerramento!
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