segunda-feira, 16 de maio de 2022

Resenha #235 - Tau Zero (Poul Anderson)


"Tau Zero" de Poul Anderson é um dos clássicos da ficção científica hard, chamada assim por sua aproximação com as ciências exatas, como a física, química e também das ciências biológicas, para separá-las da ficção científica soft onde estariam as obras amparadas pelas ciências humanas. Hoje essa classificação é antiquada pois as ciências humanas não tornam o debate menos complexo ou profundo e quem já cursou qualquer curso superior de humanas sabe bem que não é nada soft.

Classificações a parte, a física é o foco de nossa aventura pelo espaço. Imagine a Teoria da Relatividade afetando a idade dos astronautas em viagens espaciais. Longe da gravidade terrestre, do nosso sol ou até de alguma estrela, os tripulantes de uma nave envelheceriam relativamente de forma muito mais lenta. Com base nessa suposição Poul Anderson imaginou uma nave, Lenora Chirstine com o objetivo de colonizar uma estrela na constelação de Virgem, há 32 anos-luz de distância, no século XXIII. Já era esperado que após 5 anos de viagem, para os passageiros da nave, sejam 33 anos para a Terra. O que já torna a missão praticamente uma missão só de ida. Contudo, um imprevisto, um choque com uma nebulosa impede os sistemas de frenagem funcionar obrigando a nave a aumentar a sua velocidade aproximando-se do valor Tau, que quando chega a Zero é o mesmo que a velocidade da luz. Apesar de não haver tecnologia (nem no mundo do livro, muito menos no nosso) para igualar a velocidade da luz, o valor de contração Tau é a única forma de estimar uma velocidade em escalas tão elevadas. O autor explica bem melhor que eu no livro. No que tange a aventura, o drama dos passageiros é que o tempo na começa a passar relativamente muito mais depressa que o esperado, enquanto a nave cruza o espaço cada vez mais veloz. Distante no tempo e no espaço. Com pouca esperança de encontrar qualquer lugar para colonizar.

A nave é composta por 25 homens e 25 mulheres, entre cientistas e tripulação da nave. Apesar de acompanharmos mais Reymont, o oficial com poderes de polícia, na nave. A nave Lenora Christine é a grande protagonista, pois é em seu ambiente e a sua missão que mobilizam todos os acontecimentos do livro. Podemos fazer questionamentos baseados no conhecimento atual da física, mas ela ainda é suficientemente sólida para os propósitos de extrapolação do livro e ajudam a deixá-lo divertido. Os personagens são pouco trabalhados, mas podemos sentir bem o clima geral de pressão e depressão que vai tomando conta da nave. Os homens ficam ora agressivos, ora apáticos/estoicos enquanto as mulheres dão ataques histéricos, o que faz o livro envelhecer mal. Enquanto a pressão psicológica vai exigindo mais da tripulação, Reymont acaba sendo um esteio de sobriedade e vontade de viver em meio a apatia. Algo que me lembrou outra FC: a relação entre Perry Rhodan e os Arcônidas. Em outras palavras, Reymont é o típico herói espacial: valente e forte tanto física quanto psicologicamente, plenamente capaz de desbravar mundos, colonizando-os.

A história me fisgou, por gostar de ficção científica, onde a parte científica é bem explicada e entendemos ela com facilidade, o que ajuda muito a embarcamos na história. Contudo, é fácil entender que o leitor médio se desgoste do tratamento dos personagens que é, na falta de palavra melhor, mediano, mas suficientemente instigante para nossas próprias reflexões. O final me pareceu um pouco corrido mas de certa forma inevitável em relação ao desenvolvimento e considero satisfatório. Talvez satisfatória até demais. Certamente uma excelente obra da FC e recomendo a leitura.

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