segunda-feira, 24 de julho de 2023

Resenha #295 O cometa + O fim da supremacia branca (W. E. B. Du Bois, Saidiya Hartman)

 



"O cometa" foi escrito em 1920 por W. E. B. Du Bois é uma peça do pessimismo que escancara as relações raciais nos Estados Unidos do seu tempo a partir de uma especulação típica da ficção científica. O que aconteceria se você ficasse sozinho e todas as pessoas do mundo estivessem mortas? E se você fosse negro? O que eventualmente muda em sua resposta, a partir da segunda pergunta é que ganha centralidade neste conto.

Acompanhamos Jim, um mensageiro de um banco em Nova York, nos anos 1920, que sobrevive a um evento catastrófico causado por um cometa. O que causa o evento e as suas consequências, não é o que realmente importa aqui, mas como sua relação com o mundo muda ao longo de sua jornada pelas ruas tomadas por pessoas mortas. Então, ele encontra Julia, uma mulher branca que também sobrevive, e nessa relação entre os dois sobreviventes, cheias de impressões entre ambos e a própria situação. O conto é curto e de linguagem objetiva mas é repleto de momentos que mostram como seria diferente com um homem negro, no lugar de um branco, andando solitário e, depois, encontrando com uma mulher branca sobrevivente.

É um conto que necessita uma leitura atenta a esse aspecto, para se tirar o melhor proveito da leitura. Contudo, mesmo para o leitor mais desatento é possível tirar várias reflexões do ensaio que segue a leitura do conto, que se chama "O fim da supremacia branca" escrito por Saidiya Hartman, uma pensadora de nosso tempo que tece muitas considerações evocando vários pensadores negros, como Frantz Fanon. Esse texto, na verdade, praticamente inutiliza a necessidade de uma resenha mais avaliativa sobre o conto, pois a autora do ensaio se debruça e tece com detalhes os vários aspectos que passariam batidos por uma leitura desatenta, ou de um leitor branco que não tenha conseguido se colocar no lugar de Jim. Recomendo a leitura por ser intensa em seus propósitos mas muito palatável em termos estilísticos. 

 

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