segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Resenha #303 Revista Histórias Extraordinárias, número 1


A Revista Histórias Extraordinárias editada pelo jornalista Marcos Cavalcanti e Mario Garnett foi lançada em dezembro de 2020 e até o momento está na sua sexta edição. Adquiri as três primeiras via Catarse, que acredito ser a principal forma de adquirir os números. A Editora Mundo trabalha com itens colecionáveis e alguns dos cartões vem como brinde nas compras por financiamento coletivo. A proposta é relembrar os tempos de revista pulp com narrativas de horror cósmico, sobrenatural e ficção científica. Como é comum nas revistas, há textos de outros tipos que circundam o tema. Uma entrevista, uma matéria e algumas pequenas resenhas de filmes, mas o grosso da revista é de contos.

A revista abre com uma coluna chamada Departamento de Ciência, com uma matérias sobre como as bombas atômicas jogadas pelos EUA sobre o Japão abriram o chamado antropoceno, um novo nível de domínio do homem sobre a natureza. Achei boa pelo ponto de vista técnico, mas havia um espaço para explorar mais o aspecto civilizacional do antropoceno. As resenhas de filmes e séries são sempre bem vindas, não assisti nenhum dos filmes e a série que recomenda infelizmente foi cancelada mas os textos são bons e sucintos. A entrevista sobre o radio amador eu gostei bastante, mas acho que ela deveria ir ao final da revista ou logo depois do conto que se conecta com ela, como forma de expandir o assunto, uma vez que a própria entrevista conecta os dois textos. 

Quanto aos contos, eles são bem apegados a proposta, o que achei ótimo tendo em vista que o espaço da revista não é tão grande. São 38 páginas bem grandes e cabe mais texto do que aparentava. O primeiro conto é O Colete Curativo, por Mário Cavalcanti que é uma ideia interessante mas pouco explorado, sobre um artefato de uso comum que parece saído de um mundo dieselpunk. Hypnos e Morfeu, de M. V. Garnett é um relato de uma invasão silenciosa de dois corpos celestes que bloqueiam a capacidade da humanidade de dormir, o conto desenha bem os efeitos da privação de sono enquanto mostra a vida de um operador de radio amador, ao ler o conto que imaginei ser melhor a entrevista vir logo após este conto. A narrativa é tensa e achei a melhor da edição. O segundo conto é longo, também e se chama Belvedere de Paolo Fabrizio Pugno, que aborda uma nave de mineradores de asteroides no Cinturão de Keiper que recebe uma dica de um corpo rico em metal rumando para fora do cinturão, que representa uma oportunidade de lucro exorbitante e irresistível. Sabemos que vai dar merda, mas só lendo para saber como isso acontece. Eles não eram verdes de Mário Cavalcanti, é uma abordagem bacana sobre o drama de uma família que tem um ente querido levado por alienígenas e encerrando Saturação por Marco Lazzeri, que é um diário de um minerador infectado em serviço, gostei do clima desconfortável mas senti falta de mais detalhes horrendos da doença.

O saldo da revista é bom, mas como tenho outras duas revistas para ler, espero que ela fique melhor. O formato físico dela não me remete aos pulps antigos principalmente pela qualidade boa do papel, que deveria ser a mais barata possível, mas quanto ao conteúdo eu achei coerente com a proposta.


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