quarta-feira, 20 de abril de 2016

Resenha #22 - Clãs da Lua Alfa (Philip K. Dick)

[SEM SPOILERS]
A loucura sempre foi abordada nas obras de Philip K. Dick, mas em Clãs da Lua Alfa ela é o tema principal. Imagine uma Lua fora do sistema solar, que já foi um hospital psiquiátrico, se tornar um Estado independente, com clãs que tratam seus estados psicológicos como culturas próprias. Se já é insólito, melhor nem mencionar o fungo telepata de Ganimedes. 
História
Passa-se num futuro onde os seres humanos convivem com vários seres extraterrenos circulando como meros estrangeiros entre nós. Tudo começa com Chuck Rittersdorf, um agente da CIA, arrasado com a recente fim de seu casamento com Mary, uma terapeuta familiar. Chuck se divide entre propostas de trabalho arrumadas por Mary e planos suicidas, enquanto isso Mary se alista para uma missão governamental em na Lua Alfa III M2, em Alfa Centauro.
Nesta Lua, que um dia já foi um hospital psiquiátrico gerido pela Terra e tornou-se um Estado independente gerido por clãs derivados dos antigos pacientes, uma reunião entre os líderes dos clãs debate uma possível invasão. Os clãs são: os Infantilistas, os Paranoicos, os Depressivos, os Hebetizados, os Maníacos e os Esquizoides.
A loucura da normalidade
Apesar da loucura ser o tema do livro, toda a obra de Philip K. Dick gira entorno das barreiras entre o real e o irreal, onde costumeiramente são esmigalhadas pelo autor. A loucura aqui, é reconhecida pelos ex-pacientes como sua cultura, é a forma de mostrar uma realidade onde essa barreira não existe e derivam as situações mais insólitas e inventivas do livro. Contudo é o encontro de habitantes da Lua Alfa com os da Terra, que vemos essa barreira nos atingir com toda força. O normal é, mostrado com uma dose do pragmatismo tipicamente estadunidense, tão louco quando os clãs.
Trama engenhosa 
A trama do livro é engenhosa e exige uma leitura atenta aos detalhes, pois o livro é curto e os personagens variados, cheios de interesses próprios e psicologicamente afetados (ou seriam todos normais?). A narrativa segue vários personagens que vão se encontrando, além de Chuck, temos Gabriel Baines, o delegado do clã dos Paranoicos e em um momento segue-se Lebedur um Hebetizado com poderes psíquicos (ou seria apenas mais um louco?). 
A grande qualidade da narrativa é o aspecto psicológico dos personagens, que não são poucos,  tornando-os bastante críveis mesmo os que aparecem pouco.
Considerações finais 
A trama engenhosa com espionagem, cenários insólitos e personagens estranhos por si já é um bom motivo para ler. Contudo, não é apenas isso, as camadas mais profundas do texto, são capazes de provocar bons momentos de reflexão. Este livro deve ser para um psicólogo o que, O Homem do Castelo Alto é para um historiador. Seria muito interessante saber o que eles teriam a dizer sobre o livro.
Sobre a edição resenhada: Clãs da Lua Alfa, (escrito em 1964) não tem edição recente obrigando o leitor a procurar a da Francisco Alves de 1987. Quem sabe ele não é lembrado em meio as obras ainda não reeditadas pela editora Aleph?

 
Outras capas: de Portugal e a primeira em inglês.

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