segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Resumo #208 - Acid + Neon "1.0" (Estúdio Coverge)


"Acid + Neon" (1.0) é uma antologia do Estúdio Coverge que elabora trabalhos artísticos que unem literatura a outras artes, como gravuras e música. Ambientados neste mundo cyberpunk, também há uma sequência Acid + Neon 2.0 e um jogo de tabuleiro chamado Belona. No site da editora podemos ter acesso a vários livros de graça em formato PDF (que ficaram boas para ler no Kindle, fica a dica), além das playlists com músicas originais no Spotify. Até o jogo de tabuleiro é possível baixar os arquivos para imprimir, também de graça. Pretendo falar mais do jogo depois de ler o segundo volume deste mundo cyberpunk. Espero que até lá a pandemia já tenha acabado para poder testá-lo e contar para vocês.

Os contos eu classificaria de dois tipos. Os que se parecem ser do mesmo mundo, pois se complementam em meio aos clichês cyberpunks e outros que oscilam bastante, distanciando-se dos clichês a ponto não restarem nada do cyberpunk. Particularmente prefiro que o autor tente domar os clichês que escrever algo tão fora do subgênero, talvez isso seja por este ser o meu favorito.

A Bala (Jorge Martins) A antologia abre com um conto rápido e seco. Uma atiradora de elite prestes a fazer justiça com as próprias mãos em um senador conservador contra pessoas que utilizam próteses. O desenvolvimento já valia o conto, por ser bastante imersivo, e o autor ainda nos brindou com um boa virada no final.

Deixe Queimar (Löui Moon) O segundo conto também aborda o uso das próteses. A pegada mais intensa e seca aumenta e se alimenta bem do conto anterior. O final é forte e combina bem com o ritmo do universo cyberpunk.

Caçadora (Mura Martin) Aqui temos um conto que usa bem o cotidiano neste mundo, com um acontecimento que poderia rolar em uma conversa de bar. Um causo cyberpunk. Bem colocado no início da antologia.

Desconhectado (D.R.Laucsen) Caos e Tecno são dois amigos bem diferentes. Um age guiado pela emoção e está em um amor virtual por uma DED, enquanto o outro tenta alertá-lo para a possibilidade de ser um golpe. O final é bastante inusitado e bem construído, pois as pistas estavam ali o tempo todo. 

Futuro (Leandro Leal) Conto avança no futuro, ainda mais, para recontar a história de Camelot e do Rei Arthur com uma roupagem cyberpunk/pós-apocaliptico. A lenda de Arthur não é cyberpunk por mais implantes e enxertos que se coloquem na história, ainda mais quando os confrontos não mudam. O conto me removeu da atmosfera que os demais estavam me inserindo, até agora.

Memórias (Borisse de Almeida) Conto que pincela um momento dramático na vida de um inventor, que vê sua invenção ser usada para fins terríveis. Em um conto tão curto, conseguiu estabelecer, vários problemas da tecnologias e ainda conseguiu arrematar o conto com uma passagem dramática bem colocada.

Myriade (Mauro Bartolomeu) Não achei que um conto sobre a colonização na Lua conseguisse manter a ambientação cyberpunk. O conto conseguiu mostrar esse mundo e ao mesmo tempo trazer um momento importante para transformá-lo. Gostei muito!

Manifesto em Roxo Neon (Ana Nogueira) Conto mais reflexivo, serviu mais para trazer informações sobre o mundo do que um enredo em si. Gostei mais por já ser receptivo ao universo cyberpunk que pelo conto em si.

Fantasma de Neon (David Leite) Conto que parece fazer referência direta ao conto Myriade, mostrando o outro lado. Uma missão, encomendada para eliminar hackers selenitas. Ação empolgante.

Despertar para o Amanhecer (Ana Paula Camargo) Uma mulher acorda sem memórias até que encontra sua avó que lhe traz a verdade. Uma tecnologia que coloca o leitor para pensar. Combina muito com este mundo.

Opressão Final (In)Consciente (Raul Coutinho de Almeida) Plácido foi recrutado obrigatoriamente para uma invasão em uma empresa brasileira. Não há nenhuma opção boa para ele, então resta escolher a menos pior, como é comum em enredos cyberpunks. Conto tem uma linguagem leve e com uma ação satisfatória. Combinou bem com o mundo da maioria dos contos.

Assassinos Sonham com Assassinos? (Pedro Henrique Silva) Conto bastante inspirado no Total Recall mas desta vez acompanhamos um assassino que busca roubar uma tecnologia que renderia milhões aos seus contratantes. Conto tem um bom desenvolvimento mas um final confuso.

O Avatar Não-Binário do Deus Virtual (Lewd) Mia recebe um trabalho aparentemente simples que pagará o carro voador que tanto deseja, matar uma celebridade virtual que tem um caso com um executivo. O desenvolvimento e resolução foram simples e conseguem surpreender, saindo um pouco do enredo padrão do cyberpunk.

Audiência (C)Ativa (Luis Cristiano) Para quem não é niilista o bastante, parece um prólogo de algo maior ou podemos chamar de uma pincelada de uma vida. O conto narra um intelectual reunindo jovens com potencial de transgressão.

Os Olhos Dela (Letícia Cristiano) Uma típica aventura cyberpunk. Eu adoro, principalmente quando está ao lado de contos que fogem demais do cyberpunk, mas pode cansar se não saem da zona de conforto. 

Injeção Letal de Culpa (Brick Alves) Um interrogatório em uma delegacia envolve duas mulheres. Acompanhamos caminhos opostos em rumos opostos. A virada no enredo não surpreende mas é tão bem feita que me fez gostar do conto.

Ícaro no Futuro ou Guarda para Sempre os Conselhos de Teu Pai (Paula Dias) A referência a lenda de Ícaro para o mundo cyberpunk funcionou. O tema das próteses robóticas de baixa qualidade, que há em outros contos, ficou sensacional aqui.

2337 (João Marcelo Rocha) Acho que foge da temática cyberpunk. É um bom conto distopico, dependente demais de um final que não me agradou.

Transição Vinte e Seis (Henrique Fanini Leite) Acompanhamos uma espécie de agente auxiliado por uma IA chamada Sputnik, e a medida que exploramos esse mundo, ele vai ficando cada vez mais misterioso. Criativo no uso das fontes e consegue estabelecer bem o mistério.

Nivhiun (Renan Fontella) Acompanhamos um detetive que investiga grupos ativistas e vende informações sobre eles para seus inimigos, mas tanto ele quanto seus inimigos querem elevar a situação a um novo nível. Bom desenvolvimento e final.

Chuva Sintética (Vilén S.) Conto policial com todo aquele ar noir, investigativo sob luzes neon mas que ganha outro aspecto do meio para frente e traz um final em que a investigação já não importa mais. Muito bem articulada e executada a mudança na trama.

Nova (Victor Wolffenbüttel) O protagonista tenta entender o mundo ao seu redor, aparentemente um mundo pós-apocalíptico em que a energia elétrica está definhando. A descoberta desse mundo, a caminhada e as respostas são recompensadoras no final.

Nenhum comentário:

Postar um comentário