segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Resenha #221 - Revista Fantástica Caligo número zero


"Revista Caligo numero zero" é lançamento da editora que mostra que está mergulhando de cabeça no Fantástico. Antes, com o lançamento da antologia Outros Brasis da Ficção Científica, abrindo o selo Outros Brasis, agora com uma revista semestral de contos que abrangem Ficção Científica, Terror e outros ramos do Fantástico.

"O Paciente da Segunda-feira" de Pedro Curnivel, é um retrato da paranoia. Conta sobre dois irmãos. Samanta que está na cidade e decide ler cartas do seu irmão, um médico psiquiatra que vai para um vilarejo no interior onde relata sobre um paciente psicótico. O conto é praticamente a leitura das cartas do médico. Particularmente, adoro escrita epistolar, e aqui Pedro consegue envolver o leitor na paranoia, nos fazendo virar páginas alucinadamente, até o derradeiro desfecho.

"Senescência ou como Charlie acorda Clarice" de Tânia Souza. Ficção Científica que não tem um enredo propriamente dito, mas que com muita competência, pinta um quadro de uma vida miserável. Clarice é um ciborgue que vive em um pequeno apartamento. Não há muito mais para se contar, é mais o epílogo de uma história trágica que conseguiu misturar cyberpunk e cotidiano sem agredir os elementos principais de duas narrativas tão diferentes.

"Divina Rotina" de Davenir Viganon, conto de minha autoria, é sobre Divino e seu dia de trabalho comum no inferno. Procuro aliar a comédia com situações absurdas, com referências tanto da Divina Comédia de Dante como referências atuais.

"Aysú" de Maria Eduarda Amadeu, é uma amostra da escrita madura para uma autora tão jovem. O conto é uma curta, mas intensa viagem na mente de uma amazona indígena conhecendo o amor, nos perdemos neste mundo diferente ao mesmo tempo que mostra a universalidade do sentimento.

"Ensaio Sobre a Natureza Morta" de Fil Felix trata o fantástico de forma intimista, na história de Giovani que passa por suas decepções pessoais e lidando com seu poder de transformar-se em plantas. A escrita é o tempero do conto, que brinca com a passagem do tempo de acordo com o dom/maldição do protagonista.

"Espiral" Giselle Fiorini Bohn acompanha Ana, que passa a receber a visita de uma pequena menina maltrapilha e que passa a ser sua obsessão pessoal, visto que ninguém parece se importar com seu estado. A condução do conto passa a agonia de não ser ouvido, pela escrita em primeira pessoa e a revelação joga o elemento fantástico na cara do leitor.

"Vazio Tóxico" de Leonardo Jardim, acompanha Horácio um velho professor que tenta sobreviver em um mundo pós-apocalíptico em busca de água enquanto foge do gás tóxico quase onipresente na atmosfera, quando encontra uma biblioteca perdida nos escombros de uma casa e uma menina que vem de muito longe. Geralmente não gosto deste tipo de história mas o desenvolvimento e revelações finais da trama foram bem montados, sem extravagâncias narrativas e me fizeram gostar do conto.

"O terceiro menino" de Amana mostra uma realidade alternativa em que os nazis venceram e a família como conhecemos foi desmantelada. Os jovens são criados com tutores e são descartados após tutelarem o terceiro menino. A autora consegue trazer uma esperança misturada com amargor neste futuro inóspito e claustrofóbico. Construção de mundo e desenvolvimento são maduros e bem feitos. Gostei do conto.

"A casa xadrez" de Bruno Andrade, vai pelo caminho da alegoria ao narrar as viagens de um homem que decide ficar recluso numa residência cheia de segredos que o protagonista tem tanto anseio como medo de explorar. Conto que não demora a expor seu aspecto psicológico e que nos instiga a desvendar o que de fato se passou na mente do protagonista. O final é triste e bem feito.

"Homicídios manchados de rosa" de Thaís Lemes Pereira traz uma história de detetive nos mundos dos contos de fadas. O lenhador entrevista várias princesas e ver como foi o depois do felizes para sempre foi bem engraçado e a revelação final recompensa o leitor pela jornada do lenhador. Excelente final da secção de contos.

Após os contos de tamanho tradicional, a revista também trás minicontos na seção "Histórias para serem lidas durante o bater de asas de uma borboleta" trazendo contos dos autores Amana, Bruno Andrade, Davenir Viganon, Giselle Fiorini Bohn e Tânia Souza. Nesta secção contribuí com três micro contos presentes no livro, "Contos do Gregório ou Pelo direito de acordar metamorfoseado num inseto monstruoso". De uma forma geral a Revista está bem variada nas formas do fantástico e a viagem por estilos e formas diferentes vai agradar ao leitor que busca por coisas diferentes para ler e a secção de microcontos está especial pois adoro essa forma de narrativa. Como em qualquer junção de contos, nem todos vão agradar a todos os leitores mas ninguém poderá dizer que é pela falta de habilidade ou talento dos autores.

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