"A Terceira Expedição" (1987) de Daniel Fresnot é uma obra pouco conhecida e, que apesar de datada, tem alguns elementos que gostaria de ver mais na Ficção Científica brasileira. A história se passa no anos 1980, tal como na época em que foi escrito, na pequena cidade de Barra Velha, no interior de Santa Catarina. Acompanhamos o relato de Mané, um operário que sobreviveu a um holocausto nuclear que a princípio dizimou a metade norte do planeta e uma boa parte do hemisfério sul. O relato inicia com os primeiros anos de reorganização entre os sobreviventes, da busca por outras cidades, máquinas, veículos e recursos para reerguer a civilização. Contudo, grande do livro é dedicada a narrar às três expedições que buscaram recursos e vida em São Paulo.
O romance epistolar tem como atrativo as possibilidades promovidas pela parcialidade do depoimento. Contudo, aqui é utilizada como artificio para passar o isolamento que os sobreviventes se encontram. Sem saber se são as únicas pessoas vivas da humanidade. Efeito esse que impulsiona as explorações através das expedições. O relato é perpassado pela esperança de encontrar vida e as frustrações com os fracassos das expedições, em especial a última. Mané não nos esconde esse fato, uma vez que no futuro seria algo de conhecimento público, restando à curiosidade do como tal fato aconteceu.
Outra característica é a verossimilhança do relato de Mané. Isso vai dos detalhes narrados como uma pessoa comum, até o fato de que Fresnot constrói esse relato afastando Mané do protagonismo até o fim. Inclusive alguns detalhes do desenvolvimento são fornecidos por cartas escritas por outros personagens colocadas entre os capítulos. Por consequência, também não há um final apoteótico, mas são coerentes. Há uma porção de esperança no tom da narrativa que entendemos apenas no final, por conta do presente do livro.
Como mencionei no início, o aspecto datado do livro se dá justamente pelo medo de uma guerra nuclear entre as potências da Guerra Fria, que desapareceu do imaginário popular com o fim da URSS. Outro aspecto é a total ausência dos relatos ou sequer de uma interação com personagens femininas (não há diálogos com nenhuma delas), que parecem não terem sido convocadas para as expedições.
A terceira expedição é um bom exemplo do uso da escrita epistolar na Ficção Científica. O autor soube usar a visão de um homem comum, para criar uma verossimilhança surpreendente em um cenário extraordinário. Uma história oral de algo que nunca aconteceu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário