Como comentei o livro que baseou o filme "Blade Runner - O Caçador de androides", prometi (a pedido dos meus milhões de fãs) resenhar o filme em conjunto e dividindo a análise em duas postagens. Agora segue meus breves comentários, esperando outro fã do filme para trocarmos impressões.
Resenha do Filme: Blade Runner (1986)
A premissa da caçada aos androides fugitivos pelo caçador de recompensas Rick Deckard numa Los Angeles futurista distópica é a mesma do livro. Isidore, a necessidade social de ter um animal vivo e o mercerismo ficaram de fora. Contudo o filme tem a qualidade de não tentar contar todos os aspectos do livro num filme de 2 horas e isso é a maior qualidade do filme. Ridley Scott privilegiou o debate do Frankenstein cyberpunk, trabalhando com os limite da humanidade, quando seres criados artificialmente seriam tão inteligentes quanto o seres humanos.
A estética cyberpunk foi explorada com maestria. O lema "high tech, low life" foi transposto com competência para as telas e isso contribuiu para a película ser elevada a filme cult.. O mundo que vemos nas telas evoluiu em vários aspectos tecnológicos - repare bem que todos voltados para o consumo - mas a sociedade parece cada vez mais afundada em desagregação e individualismo.
A dualidade de Deckard e Isidore mediada pela religião da empatia deu lugar aos limites da humanidade na relação Deckard e os androides, principalmente Rachel Rosen. Estes pós-humanos, são uma visão da pós-modernidade. Eles encarnam aspectos da sociedade que podemos enxergar na nossa atualmente.
Rachel Rosen (Sean Young) a Femme Fatalle que confunde Deckard com seus jogos mentais que escondem a mesma fragilidade dos demais replicantes, suas memórias são implantadas e sua vida útil é de 4 anos*. A fuga de Rachel com Deckard é uma fuga para encontrar uma própria identidade pois diferente dos outros ela é criada por Tyrrel como sua sobrinha.
As replicantes Zhora e Pris são outros dois exemplos de tentativas de encaixe na sociedade. Zhora é cercada de simbolismos. Ela dança num cabaré com uma cobra e usa o nome de Salomé, ao mesmo tempo que atuava com soldados de forças especiais. É morta de forma covarde, alvejada pelas costas, e cai em meio a cacos de vidro como um produto sem serventia a sociedade. Já Pris é literalmente uma Sexy Doll criada para servir aos colonos sexualmente. Sua feminilidade é ligada a prostituição, uma mulher que engana os homens, como Sebastian. Ambas morrem na caçada de Deckard.
Roy Batty (Rutger Hauer)é a psicopatia e paradoxalmente a vontade de viver. É retratado como violento e perigoso, como um invasor da Terra, contudo ele é um eterno fugitivo. Seus assassínios são parte de sua tentativa de entender a vida. Todos os replciantes tem este padrão de procurar recontruir um passado e encontrar um sentido para a vida. Eles colecionam fotos, assimilam comportamentos de outros não para dissimular e enganar por serem "malvados", mas porque eles não tem lugar no mundo que os concebeu como descartáveis.
O dilema que Rachel instiga em Deckard, se ele não seria também um replicante, não se refere apenas a sua condição física, mas também a sua condição existencial, mesmo sendo humano todos nós somos um pouco replicantes. No livro Deckard se questiona o tempo todo se "aposentar" um replicante é tão errado quanto matar um humano.
No filme não há como expor essas dúvidas, apenas pela amargura do personagem então a cena de Roy Batty que depois de toda a pancadaria e tensão de uma cena de ação final salva Deckard e contempla o seu fim inevitável com uma bela reflexão poética
Os finais são muitos e cada um conta um destino para os personagens sobreviventes. O final que Deckard foge com Rachel em uma estrada limpa sob um céu azul é a mais comercial, o final feliz hollywwodiano que é execrado pelos fãs. Existem outros finais mas mereceriam um post só para falar disso.
* em um dos finais deckard descobre que a vida de Rachel é indefinida.
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Resenha do Filme: Blade Runner (1986)
A premissa da caçada aos androides fugitivos pelo caçador de recompensas Rick Deckard numa Los Angeles futurista distópica é a mesma do livro. Isidore, a necessidade social de ter um animal vivo e o mercerismo ficaram de fora. Contudo o filme tem a qualidade de não tentar contar todos os aspectos do livro num filme de 2 horas e isso é a maior qualidade do filme. Ridley Scott privilegiou o debate do Frankenstein cyberpunk, trabalhando com os limite da humanidade, quando seres criados artificialmente seriam tão inteligentes quanto o seres humanos.
A estética cyberpunk foi explorada com maestria. O lema "high tech, low life" foi transposto com competência para as telas e isso contribuiu para a película ser elevada a filme cult.. O mundo que vemos nas telas evoluiu em vários aspectos tecnológicos - repare bem que todos voltados para o consumo - mas a sociedade parece cada vez mais afundada em desagregação e individualismo.
A dualidade de Deckard e Isidore mediada pela religião da empatia deu lugar aos limites da humanidade na relação Deckard e os androides, principalmente Rachel Rosen. Estes pós-humanos, são uma visão da pós-modernidade. Eles encarnam aspectos da sociedade que podemos enxergar na nossa atualmente.
Rachel Rosen (Sean Young) a Femme Fatalle que confunde Deckard com seus jogos mentais que escondem a mesma fragilidade dos demais replicantes, suas memórias são implantadas e sua vida útil é de 4 anos*. A fuga de Rachel com Deckard é uma fuga para encontrar uma própria identidade pois diferente dos outros ela é criada por Tyrrel como sua sobrinha.
As replicantes Zhora e Pris são outros dois exemplos de tentativas de encaixe na sociedade. Zhora é cercada de simbolismos. Ela dança num cabaré com uma cobra e usa o nome de Salomé, ao mesmo tempo que atuava com soldados de forças especiais. É morta de forma covarde, alvejada pelas costas, e cai em meio a cacos de vidro como um produto sem serventia a sociedade. Já Pris é literalmente uma Sexy Doll criada para servir aos colonos sexualmente. Sua feminilidade é ligada a prostituição, uma mulher que engana os homens, como Sebastian. Ambas morrem na caçada de Deckard.
Roy Batty (Rutger Hauer)é a psicopatia e paradoxalmente a vontade de viver. É retratado como violento e perigoso, como um invasor da Terra, contudo ele é um eterno fugitivo. Seus assassínios são parte de sua tentativa de entender a vida. Todos os replciantes tem este padrão de procurar recontruir um passado e encontrar um sentido para a vida. Eles colecionam fotos, assimilam comportamentos de outros não para dissimular e enganar por serem "malvados", mas porque eles não tem lugar no mundo que os concebeu como descartáveis.
O dilema que Rachel instiga em Deckard, se ele não seria também um replicante, não se refere apenas a sua condição física, mas também a sua condição existencial, mesmo sendo humano todos nós somos um pouco replicantes. No livro Deckard se questiona o tempo todo se "aposentar" um replicante é tão errado quanto matar um humano.
No filme não há como expor essas dúvidas, apenas pela amargura do personagem então a cena de Roy Batty que depois de toda a pancadaria e tensão de uma cena de ação final salva Deckard e contempla o seu fim inevitável com uma bela reflexão poética
A frase Todos esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva foi inserida pelo próprio Hauer. Deckard teve a certeza de que era um assassino e não um "aposentador" de máquinas e decide que não quer mais isso.I've seen things you people wouldn't believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I watched c-beams glitter in the dark near the Tannhäuser Gate. All those moments will be lost in time, like tears in rain. Time to die.Eu vi coisas que vocês não imaginariam. Naves de ataque ardendo no ombro de Órion. Eu vi raios-c brilharem na escuridão próximos ao Portão de Tannhäuser. Todos esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer.
Os finais são muitos e cada um conta um destino para os personagens sobreviventes. O final que Deckard foge com Rachel em uma estrada limpa sob um céu azul é a mais comercial, o final feliz hollywwodiano que é execrado pelos fãs. Existem outros finais mas mereceriam um post só para falar disso.
* em um dos finais deckard descobre que a vida de Rachel é indefinida.
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LIMA, Lilian Victorino F. de. A imagem da mulher no cinema dos anos 80: Uma análise do filme Blade Runner.
Excelente!
ResponderExcluirUm filme muito profundo, mas que para a época e até para hoje em dia foi pouco atrativo comercialmente, tanto que no brazil foi lançado só em video.E nos EUA, o ET(aquele lixo) dominou o cenário.
ResponderExcluirE se não me engano, a warner só distribuiu após a voz do personagem deckard ir explicando tudo e do final feliz.
Mas a meu ver é o melhor filme de ficção já feito, mesmo hoje em dia com tantos efeitos especiais, nada consegue chegar perto de blade runner, nada é obsoleto, tudo se encaixa no contexto atual, os orientais dominam os centros, o mundo superlotado e poluído(no livro isso é mais claro).
Mas o mais interessante é a máquina que detecta os sentimentos(teste Voight-Kampff), que eu acredito que daqui um tempo vai ser necessário, porque o ser humano está cada vez mais apático.
Em relação ao fracasso de Blade Runner e o assassinato das mulheres, certa vez escrevi um texto, do qual disponho o seguinte parágrafo, a fim de ajudar nas reflexões:
ResponderExcluir"Por terem feito Blade Runner quebrar paradigmas, como a colocação da encarnação do herói americano executando uma mulher pelas costas, mesmo que artificial, podem tê-lo transformado em algo tão distinto do lugar-comum que não houve a identificação e empatia necessária das plateias e da inebriada crítica especializada, quesitos significativos para determinar o sucesso de um lançamento."
Fantástica película, e um dos melhores trabalhos de K. Dick.
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