sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Resenha #2 - Vemos as coisas de modo diferente (Bruce Sterling)

"Vemos as coisas de modo diferente" é um conto de autoria de Bruce Sterling. Já figurou algumas coletâneas, contudo o conheci na "Futuro Proibido". Resolvi resenhar este conto por considerar o melhor da coleção.

O conto narra uma visita de um jornalista do cairo aos EUA. Contudo esse país e o mundo já não são mais os mesmos. A antes orgulhosa potência mundial, vive de exportar matérias primas e artistas de rock, como o que vai ser entrevistado pelo personagem principal.

A grande atração do conto é sua narrativa em primeira pessoa, que nos coloca na visão de um árabe, que pensando como tal, trás observações interessantes e até divertidas sobre coisas corriqueiras da cultura ocidental. É um tremendo exercício de alteridade. 

Sterling traz na sua literatura algo muito presente no pensamento do filósofo Edward Said quando trouxe sua visão de orientalismo. Trata-se da construção eurocêntrica que se desenvolveu sobre as regiões da ásia e norte da áfrica, criando uma série de taxações que orbitam o exótico, perigoso e descivilizado. Essa visão nos faz jogar coisas como islã, homem-bomba, garganta cortada, violência, fanatismo, tudo no mesmo saco sem se dar o trabalho de entender a riqueza da cultura da região. No conto os incivilizados são os ocidentais.

Interessante foi que Sterling viu uma União Soviética destruída por uma bomba nuclear detonada por mujaheedins afegãos. O conto data de antes da queda do comunismo no país e não deixa de ser muito perspicaz do autor, já que a maioria da FC antes de 1990 não conseguia imaginar um mundo fora da guerra fria. 

A Ficção Científica como qualquer literatura sempre fala mais do presente que do futuro e a FC não escapa dessa máxima. Contudo o conto de Sterling é de uma atualidade muito relevante quando pensamos a situação política mundial.

2 comentários:

  1. Legal mesmo. Espero encontrar este livro nas livrarias. Quero constatar como é o viés de uma escritora que jamais imaginar o pós-Cold War dos anos posteriores que se seguiram. Espero tambem ver no texto da autora algo de estranhamento inverso do europeu e do não-europeu. Djóia, camaradinha!

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    1. Mais fácil achar em sebos. Ainda sim é difícil. Achei um numa livraria na seção de biologia. Não me pergunte como
      Deve ser por causa da capa...

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