terça-feira, 22 de outubro de 2019

Resenha #107 - A Máquina Preservadora, Parte 1 (Philip K. Dick)

A Máquina Preservadora (The Preserving Machine) é uma coletânea de contos de Philip K. Dick lançada em dois volumes pela lendária editora Argonauta, responsável por trazer centenas de obras de Ficção Científica para a língua de Camões, sendo que muitas obras só podem ser encontradas traduzidas por conta desta coleção. Aqui temos um belo compilado de contos do autor, alguns já encontraram republicações no Brasil conforme apontamos os que já traduzimos. Para um colecionador e aficionado pelo autor como eu, deparei com algumas inevitáveis repetições em relação ao que já foi lido e resenhado aqui, mas foram apenas quatro contos, e os comentários foram transcritos pois acabei pulando esses contos na hora de ler essa coletânea. No mais, vou comentar os contos do primeiro volume individualmente e numa próxima postagem os do segundo volume.

A Máquina Preservadora (The Preserving Machine): Conto curto que dá nome a coletânea. Doc Labirinth é um senhor ocupado com a preservação da cultura da nossa sociedade a longo prazo, em especial com a música, pois para o Doc é a mais frágil de preservar. Doc projeta uma máquina capaz de dar forma viva as músicas que considera mais dignas de serem preservadas, como Bethoven, Mozart, Schubert, Wagner entre outros do estilo clássico. A máquina recebe partituras e devolve formas de vida parecidas com animais inéditos ainda que lembrem os que já existem. Contudo, as coisas começam a sair de controle de Doc. O final faz uma reflexão bem humorada sobre natureza humana, não necessariamente impactante mas carregada da ironia característica de Dick.

O Jogo de Guerra (War Game): funcionários de uma importadora de brinquedos avaliam produtos vindo de Ganimedes para o mercado da Terra. São eles: Um jogo de realidade virtual onde soldados invadem uma cidadela, uma fantasia de cowboy e uma variante do Monopoly chamada Syndrome. O propósito dos brinquedos é obscuro aos personagens e ao leitor também, não percebem a ideologia guerreira de seus importadores mesmo nos brinquedos vetados. Contudo, a ideologia mais sutil e eficiente está justamente no brinquedo aprovado.

E Se Benny Cemoli Não Existisse? (If There was no Benny Cemoli): O conto se passa no século XXII cerca de 20 anos depois de uma guerra que regrediu a tecnologia na Terra, quando da chegada do GRUC, uma organização inter-sistema vindos de Alfa-centauro para restabelecer relações com a Terra e ajudar em uma reconstrução tecnológica. Paul Hood, chefe do GRUC, reativa o homeojornal New York Times para que sua chegada seja noticiada a todo planeta. O homeojornal, funciona a partir de um computador central e autônomo no subsolo (por isso preservou-se durante a guerra, mesmo inativo), e junto as noticias de chegada de Hood e o GRUC, passa a noticiar uma revolta chefiada por Benny Cemoli em Nova York. O mistério começa quando Hood não encontra nenhum rastro de Cemoli, nem de sua revolta, quando vai até Nova York. O conto trata da manipulação da mídia e vislumbra um mundo de comunicação global em, praticamente, tempo real e traz uma trama complexa mas bem contada em tão poucas páginas.

Roog (Roog): Conta história de um cão chamado Boris, que sente uma ameaça rondando a frente da casa dos seus donos num pacato bairro suburbano. Conto bastante subjetivo, que segundo o próprio autor fala de lealdade e sobre a incapacidade de Boris transmitir seu alerta e de como é considerado incômodo ao tentar transmiti-la. 

Veterano de Guerra (War Veteran): David Unger é um veterano de uma grande guerra do século XXII e vive amargurado com a derrota da Terra contra colonos humanos de Marte e Vênus, que tenta sempre contar seus feitos na guerra porém quase ninguém lhe dá ouvidos, até que em meio a protestos por conta do desemprego, quando o dr. Patterson em uma consulta descobre que Unger deveria ter 15 anos do ano de 2184,  e não 85 e que a guerra interplanetária de 2185 é um evento futuro. Seria Unger um viajante involuntário do futuro? Começa um jogo de interesses entre o dr. Patterson, seu médico, o líder politico radical Gannet, V-Stephens um venusiano entre outros para impedir a guerra ou para virá-la para o lado da Terra em meio a crise eminente entre os povos. 

O Melhor Lugar de Reserva (Stand By): Quando uma frota alienígena desconhecida é detectada se aproximando do Sistema Solar, o Unicefalon, o computador administrativo com poderes de presidente dos EUA, fica inativo. Então, Max Fischer, o substituto humano escolhido pelo sindicato assume o cargo, porém logo uma crise se instaura pois um Jim Bribski um comunicador famoso de rádio tenta armar uma reeleição para ocupar a presidência. O conto faz uma sátira política que elege presidentes babacas em tempo de internet e como a tecnologia não cria uma ferramenta que não melhora tudo por si só. Conto que vale pelo desenvolvimento e não pelo final.  

E Lá ao Fundo Vivem os Wubs (Beyond lies the Wub): Peterson é o imediato na nave espacial do comandante Franco, quando Franco encontra um wub, um ser que Peterson adquiriu numa das paradas do cargueiro. A medida que os tripulantes estabelecem contato com o wub, a tripulação de divide entre os que querem devorá-lo por ser parecido com um porco de 200kg, como o capitão Franco e os que querem mantê-lo vivo, como o imediato Peterson, pelo wub ser inofensivo, sensível e inteligente. Conto fala sobre a adaptação e a violência e tem um final muito criativo e inspirado que pode tirar um sorriso do rosto. 

Recordações Por Atacado (We Can Remember It for You Wholesale): Conto que serviu de inspiração para o filme Vingador do Futuro, que começa apresentando Douglas Quail, um "assalariado de merda" que não tem o tamanho de Schwarzenegger mas deseja ir a Marte. Então, recorre a Rekordações para receber um implante de memória de como teria sido a viagem. Após complicações no procedimento a estória segue um rumo diferente do filme. O conto aborda o que restaria de nossa identidade se pudéssemos manipular as nossas lembranças e experiências de vida. Publicado também Coletânea Vingador do Futuro e na Coletânea Minority Report.

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