terça-feira, 24 de março de 2020

Resenha #125 - Trilogia REQU13M (Lídia Zuin)



A trilogia REQU13EM é o conjunto de três noveletas que expandem as aventuras da hacker Lynks, sendo a primeira "Deus sonha o homem", narrando eventos antes do conto Dies Irae, enquanto as outras duas partes, "O homem sonha a máquina" e "A máquina sonha deus" dão continuidade ao conto original. Apesar de serem três novelas separadas, elas são mais coesas juntas que como partes separadas, principalmente as duas últimas. Espero que todo esse material seja lançado como um dia como um romance, pois é a forma que acho que me agradaria e seria mais justa de ver publicado. 

Em "Deus sonha o homem" Lynx aceita um trabalho no melhor estilo cyberpunk, para manter seu estilo de vida hedonistamisterioso e perigoso o suficiente para ser uma cilada. A narrativa mantem a linguagem seca mostrando não apenas a podridão dessa sociedade mas como afeta a percepção do real por conta do uso de Realidade Virtual que não se diferencia muito do uso das drogas, pois ambas são formas de alucinação sendo a do ciberespaço, consensual. Outro aspecto que chama a atenção é a constante de artificialidade que cerca a protagonista, desde que Lynx sai(?) do ciberespaço até o consumo dos alimentos análogos aos originais. A história aumenta a velocidade até ser quase tão frenética quanto o conto original levando a uma boa revelação no final.

Na segunda parte, "O homem sonha a máquina", se passa logo após os eventos do conto Dies Irae. A história logo abandona o ritmo frenético de fuga do conto e passa ao investigativo. Lynx encontra o mesmo homem misterioso da primeira parte, que pede ajuda para investigar uma série de assassinatos cometidos contra um grupo de tecnognósticos. Na terceira e última parte "A máquina sonha deus", Lynx retorna a investigar os assassinatos, mas o verdadeiro enigma tem mais a ver com o destino do homem misterioso e das irmãs que a mantém segura. A conclusão da saga de Lynks leva para caminhos que exploram o aspecto teológico da visão gibsoniana do ciberespaço como alucinação coletiva, mas ao invés da cosmologia do vodum caribenho temos a budista.

A leitura é bem recomendada para quem gosta do cyberpunk, principalmente quando os elementos teológicos estão envolvidos. A escrita é carregada da aspereza e ambienta de forma intensa o mundo cyberpunk que pode ser em qualquer grande centro urbano.
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terça-feira, 17 de março de 2020

Resenha #124 - Dies Irae (Lídia Zuin)


"Dies Irae" é um conto de Lídia Zuin, uma das poucas escritoras que além de escrever, também pensa o cyberpunk no Brasil, através de textos e seu trabalho acadêmico, tornando-se assim uma das referências no assunto. Publicado pela primeira vez na revista Imaginários da Editora Draco em 2010, e depois em e-book em 2012, o conto é uma corrida frenética da hacker Lynx que foge de uma gangue perigosa após ter divulgado arquivos secretos cheios de filmes snuff colocando sua cabeça a prêmio.

O ponto forte do conto é a qualidade da narração que é seca, visceral e pinta muito bem a severidade desse mundo e faz questão de andar pelas suas partes mais sujas. A influência de William Gibson é bastante evidente, tanto que o conto poderia muito bem se passar no Sprawl. O conto não se preocupa em desenvolver uma história completa, ficando como uma pincelada desse mundo. Este cenário mudou no ano seguinte com a publicação de três noveletas que abrangem essa paisagem cyberpunk contando momentos antes de "Dies Irae", na primeira história e momentos após nas outras duas, formando a trilogia REQU13M.

Para saber mais sobre esse conto, recomendo além da leitura do proprio, a resenha do blogue Cyber Cultura!
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terça-feira, 10 de março de 2020

Resenha #123 - Justiça Anciliar (Ann Leckie)


"Justiça Anciliar" ganhou vários prêmios quando foi lançado em 2013, como o Nebula e o Hugo e isso gerou um expectativa quando foi lançado no Brasil em 2018. A história segue Breq ex-membro do Império Radchaai, que agora busca vingança. Breq era a IA da nave Justiça de Toren um gigantesco porta-tropas utilizado em anexações de planetas ao território do império Radch. Grande parte da expectativa se dá a forma linguística, a flexão no gênero feminino em todo o livro, segundo a cultura do império que ignora tais diferenças. 

A história alterna capítulos no passado e no presente. No presente, Breq está em um planeta distante, gelado quando encontra a capitã Seivarden que acompanha Breq numa vingança contra a Senhora do Radch. No tempo passado, Breq retoma mil anos antes, quando ainda era a Justiça de Toren durante a anexação de um novo planeta e nos acontecimentos que levaram a dissidência da Justiça de Toren

A leitura tem o grande atrativo do estranhamento proporcionado pela flexão no gênero e na feliz escolha do tradutor, Fábio Fernandes, pois essa escolha influi muito mais numa língua que separa os gêneros como a portuguesa, do que na inglesa. O que pode atrapalhar a apreciação do livro é a grande expectativa que os prêmios geraram, e também o uso de duas linhas narrativas que precisam, cada uma um tempo para contextualizar e esquentar a história até o climax. Contudo, esse espaço que ocupa o primeiro terço do livro, é usado para pintar esse universo de várias raças, a cultura dominante do Radch e esse império em crise. 

Pessoalmente o livro me agradou bastante, o fim da leitura teve um tom amargo pois concluí já sabendo que o livro não teve uma boa recepção no Brasil, (talvez o hype dos prêmios, como disse anteriormente) e acabou deixando a trilogia sem previsão da editora Aleph para lançar as continuações até o momento.
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terça-feira, 3 de março de 2020

Resenha - Revista Quadrante Sul 9

Estamos de volta para a série de resenhas da Quadrante Sul, desta vez com a edição 9 de 2018. Este número está bem melhor que o anterior, que eu achei o mais fraco até então. A primeira história é da vigilante Lady D em "A lista de Kadosh" que traz um mistério interessante de um ex maçom que caça impiedosamente seus antigos companheiros de seita após ser traído, como em toda boa história curta deixa pontas soltas e desperta curiosidade em saber mais sobre. Depois, vem "Ponto de Vista" que se destaca pelas artes incríveis de Eugênia Leitzke (o que mais gostei nessa edição) que traça um paralelo entre a natureza e a violência urbana. "Androide" é um curtíssima história de duas páginas tiradas da Fanzine Tchê nº 12, que é uma ficção científica muito boa. 

Em "...o fim do mundo!" a história é protagonizada pelo mutante Enigma em um mundo pós-apocalíptico com uma pegada cyberpunk no que tange a desagregação social, pois Enigma vive escondendo sua condição de mutante em um mundo onde não se pode confiar em ninguém o que foi bem aproveitado na história que tem um final bom. "Os sete sábios cegos" é uma adaptação de uma antiga fábula indiana que ficou bem adaptada. A última história da edição é "A olho nu" que mostra um cego que volta a enxergar após ser operado e se aterroriza ao ver o mundo. O tom niilista é forte mas um pouco ingênuo e adolescente demais e acredito que poderia passar a mesma mensagem em menos quadros ou aprofundar o conteúdo no mesmo espaço. A edição encerra com uma homenagem a Diego Müller, que era membro ativo da comunidade de Fanzines falecido em 2017.

A edição 9 é muito rica em boas histórias e bem caprichada nas artes. A arte de capa e a contra capa tem estilos artísticos que fogem das HQs comuns e enchem os olhos. Recomendo. 

Ficha técnica:
"A Lista de Kadosh": Roteiro de Marcelo Tomazi, Arte de Jader Corrêa e Letras de Alex Doeppre.
"Pontos de Vista": Roteiro e texto de Gervásio Santana, Arte de Eugênia Leitzke e Letras de Alex Doeppre.
"Andróide": Texto e arte de Jack Jadson.
"...o fim do mundo!": Argumento de Diego Müller, Adaptação e Roteiro de Gervásio Santana, Arte de Carlos Lima, Sullivan Suad e Zilson Costa e Letras de Alex Doeppre. 
"Os sete sábios cegos": Texto de Jerônimo Souza, Arte de Iwfran Costa e Letras de Alex Doeppre.
"A olho nu": Texto de Jean Magalhães, Arte de Andf e Letras de Alex Doeppre.
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terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Resenha #122 - Rio 2054 - Os Filhos da Revolução (Jorge Lourenço)


"Rio 2054 - Os filhos da revolução" (2014) é uma distopia (pós)cyberpunk brasileiro escrito pelo jornalista Jorge Lourenço, que mistura diversas influências do cyberpunk num cenário pós-guerra no Rio de Janeiro.

A história se passa no ano de 2054 em um Rio de Janeiro devastado por uma guerra ocorrida há décadas que culminou na tomada do poder por megacorporações que agora gerem a cidade. Cercaram-se em uma área abastada, o Rio-Alfa, chamado popularmente de Luzes, deixando apenas as áreas contaminadas e abandonadas sem qualquer assistência no Rio-Beta (Escombros), acentuando a separação Favela/Asfalto, trazendo o High Tech/Low Life que tanto caracteriza o cyberpunk. 

Miguel, o protagonista, vive nos escombros e se envolve-se numa guerra de gangues de motoqueiros, quando decide salvar a existência de uma androide senciente com quem fez amizade. Juntando-se a gangue do seu amigo Anderson, Miguel acaba descobrindo também habilidade psíquicas que o tornam o único capaz de combater a nova gangue, aparentemente financiada pelas Luzes, que desencadeiam uma guerra de proporções muito maiores que as violentas competições da área dos escombros. As habilidades psíquicas e gangues de motoqueiros são a influência direta do cyberpunk japonês Akira enquanto a androide senciente, é evidentemente de Ghost in the Shell.

O autor consegue fazer essas influências conversarem muito bem entre si, numa trama bastante atraente e ágil. Somando isso a uma boa quantidade de ação e excelentes reflexões sobre a desigualdade social conseguem entregar uma boa ficção científica. Minhas ressalvas, ficam a referência ao personagem Fred e ao Nicolas, chamados quase sempre apenas de "negro", foi uma escolha infeliz pois deixa o livro com cara de romance do século XIX. Outra coisa que pode incomodar o leitor é que o desenvolvimento do Miguel é praticamente nulo, mesmo com a descoberta de poderes e todos os tipos de perigo que ele passa, parece que apenas confirma que o que ele pensava era o certo mesmo. Inclusive seus amigos não demonstram ter qualquer influência nas decisões que Miguel toma e apenas seguem a sua vontade sem muita resistência.

A trama é bem rica em acontecimentos e reviravoltas que, somadas as excelentes cenas de ação deixam a leitura eletrizante. Influência dos melhores mangás do gênero. O autor consegue nos transportar para esse futuro com uma boa construção dessa sociedade desigual. As reflexões sociais, junto com a qualidade da ação, são os pontos altos do livro. A leitura é recomendada e inclusive me pergunto porque o autor não lançou mais outra história, pois ele escreve bem.   
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terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Resenha #121 - Periferia Cyberpunk (org. Raphael Fernandes)


"Periferia Cyberpunk" (2018) é uma coletânea de histórias em quadrinhos que traz valor do quadrinho brasileiro ao mostrar uma versão brasileira da estética cyberpunk em oito histórias que variam em narrativa e traço, sem compartilhar um universo em comum mas firmes na sua proposta geral.

"Só os vilão" mostra um grupo de assalto que habita os esgotos de um rio tóxico radioativo que gerou uma casta de mutantes deformados. Eles buscam um artefato robótico que os daria vantagem para enfrentar o Estado que os segrega mas a arma acaba se voltando contra eles. O traço é bom e os diálogos são fluídos por se distanciarem da linguagem formal.

"Iansã Ferida" a população pobre vive no subterrâneo, quando duas garotas acordam de uma bad trip não conseguem mais acesso para a superfície até que uma amiga da PM, Dendê, tem uma saída. A linguagem informal flui muito bem. O traço aqui é muito bonito e elegante, com ângulos que dão efeitos muito bons e a página que representa o uso de uma nova droga merecia um quadro na parede.

"Um tucano me ensinou a voar" é aspecto cyberpunk aparece muito mais pela essência que pela estética. Usa bem o humor para estampar as paranoias do trabalho e o fracasso do protagonista, que trabalha sem parar e continua sem qualquer perspectiva de melhorar de vida. Toda dor do protagonista é regada pela leveza enganosa do traço de mangá.

"Babel de Cristo" mostra a volta de Alexandre ao Rio de Janeiro, de 2054 e recebe o leitor com um Cristo Redentor com um braço protético. A história é bastante clichê. Veterano voltando a ativa ao receber um pedido de uma mãe de um filho desaparecido e no caminho se depara com bandidos armados. O que me agradou foi o cenário numa favela montada no morro do corcovado que sofre uma ocupação da polícia. A referencia ao presidente e aos capacetes dos soldados podiam ser mais incisivas, pois o clima de clichê e aquele cyberpunk que não se leva muito a sério já esta estabelecido.

"Golen Binário" Nuke é uma hacker que vive numa cidade poluída até que forçada a aceitar um trabalho invadindo um sistema, mas seu passado que a tinha aposentado retorna para atormentá-la em um ciclo sem fim. A resolução da trama passa mais tempo explicando a resolução do que desenrolando a trama, mas mesmo assim é uma boa história.

"Condomínio Paradise" segue o desespero de uma mulher sendo expulsa de um edifício que logo fica evidente se tratar de uma área abastada da sociedade, para um exílio no local esquecido e pobre. Quando a mulher chega ao solo ela encontra uma sociedade que aguardava e uma pessoa de seu passado e percebe que sua chegada pode mudar tudo. A cena inicial é bem desenvolvida e angustiante, mas compensa mesmo apressando um pouco o resto do desenvolvimento da história que tem uma virada e resolução muito boas. O roteiro consegue prender  o leitor com uma boa construção de acontecimentos.

"Midriasi" conta sobre uma sociedade pós-apocalíptica que vive em uma cohab num navio cargueiro que obriga os habitantes a utilizar um colírio, mas a protagonista começa a investigar em cima de suas duvidas e chegar a uma revelação sobre o que é a verdade. 

"Fortaleza 2068" é uma típica aventura cyberpunk, cheia de humor, ironias gritantes e violência desmedida na pele do policial brucutu Everaldo que é obrigado a trabalhar com nerd Júnior. O primeiro quadro já mostra essa ironia ao vermos Everaldo acertando vários inocentes  (vinte mortos, segundo seu capitão) enquanto massacrava uma quadrilha de assaltantes. Mais que o dobro das oito vitimas feitas pelo assassino que a dupla persegue. A história consegue divertir e expor com humor a violência desse futuro.

Ficha Técnica.
Só os vilão: Roteiro - Airton Marinho, Arte: Jader Corrêa.
Iansã Ferida: Roteiro - Guilherme Wanke, Arte: Braziliano.
Um tucano me ensinou a voar - Roteiro: Cauê Marques, Arte: Cássio Ribeiro.
Babel de Cristo - Roteiro: Lucas Barcellos, Arte: Jean Sinclair.
Golen Binário - Roteiro: Antonio Tadeu, Arte: Thiago Lima.
Condomínio Paradise - Roteiro: Larissa Palmieri, Arte: Azrael de Aguiar.
Midriasi - Roteiro: Bruna Oliveira, Arte: Akemi, Hayashi.

Fortaleza 2068 - Roteiro: Raphael Fernandes, Arte: Doc Goose.
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terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Resenha #120 - 2001: Odisseia Espacial (Arthur C. Clarke)


"2001" é a obra mais conhecida de Arthur C. Clarke e, graças a adaptação ao cinema, uma das obras de ficção científica mais famosas do cinema. Um dos poucos filmes considerados melhor que o livro. Apesar do filme e do livro serem indissociáveis, o assunto é apenas o livro que traz o que Clarke tem de melhor: Uma história cheia de criatividade que nos leva longe na imaginação e precisão científica apurada.

A história começa 3.000 anos atrás acompanhando um grupo de hominídeos na visão de seu líder, referido como Amigo da Lua, que se depara com o monólito que o ensina habilidades que tornariam o homem a espécie dominante do planeta. O que chama a atenção nessa primeira parte são as descrições da vida cotidiana bem embasadas no conhecimento científico disponível até então. 

A segunda parte da obra, se passa no então futuro em 2001 e segue o Dr. Heywood Floyd, em uma missão até a base internacional na nossa Lua onde é encontrado o misterioso monólito, referido apenas como ATM-1. A própria tecnologia alcançada pela humanidade em 2001, mostra muito do otimismo que Clarke tinha no desenvolvimento tecnológico, comprovável pelo atual andamento da conquista do espaço. A terceira parte, que dura até o final do livro acompanha a da nave Discovery, pouco tempo depois da missão de Floyd, para explorar a pequena lua de Saturno (Jápeto) passando por Júpiter. Bowman, Poole e o computador HAL 9000, conduzem a nave com mais três membros em estado criogênico. Contudo, há um objetivo secreto, investigar uma nova ocorrência de um monólito igual ao encontrado na Lua. 

As primeiras sequências parecem acumular sem ter uma resolução, mas são muito boas para criar mistério e se mostram partes de uma única jornada de transformação e busca por respostas. Clarke usa bem as descrições dos momentos mais insólitos. Elas exigem da imaginação do leitor, até então bem abastecido de referenciais científicos, passam a acompanhar uma viagem lisérgica ao desconhecido, que é muito difícil de mensurar. Essa mudança no ritmo e da própria forma da narrativa é o que costuma desagradar o leitor desavisado. Para quem puder ler e deixar que a obra lhe abra a mente, o livro é muito recomendado!
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terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Resenha - Revista Quadrante Sul 8

Depois de dois anos, voltamos a falar da Revista Quadrante Sul que resenhamos em outubro de 2016 depois que adquiri os números 4 até 7 após um evento de quadrinhos independentes na cidade de Alvorada (Região Metropolitana de Porto Alegre), o Gibifest. Agora retornamos com mais 3 números da revista e mais 3 números da série de "Peryc, o Mercenário" publicado pelo mesmo selo independente. Você pode acompanhar todas as resenhas dessa série aqui sendo que no primeiro deles explico melhor sobre o que se trata tudo isso. Nessa postagem vamos falar do número 8, com aquela fórmula de sempre: primeiro falo sobre cada história e depois faço um geral da edição.

A capa tem uma arte cyberpunk muito bacana do Matias Streb, parecida com os seres que existem na primeira história. A edição abre com "Silyx: A semente da vida" uma bela Ficção Científica que mostra Garzok, um grifo que tem a missão de levar o frágil Silyx para seu inexorável destino. O traço me agradou bastante e a história trouxe muita coisa em poucas páginas. Em "Enigma: Acerto de Contas" por outro lado prezou mais pela ação com um tipico brucutu que resolve tudo na força, investigando a serviço privado, passando por brigas e gostosas aleatórias. No geral a história parece se levar a sério demais, pois se fosse uma sátira ou tivesse uma inversão se tornaria mais interessante. Na sequência, depois de uma entrevista com o quadrinista Paulo Serpa Antunes, temos "Mandato de uma nova lei", com 2 páginas, que mostra guardas robóticos queimando gibis antigos de um sebo sob alegação de que o próprio sebista disse que não precisa deles pra pagar as contas mas que este não precisa se preocupar pois gibis novos ocupariam o lugar vago nas prateleiras. Uma mensagem de preservar as obras antigas para venda/troca pois elas são importantes também. Antes da história seguinte, ainda temos outra entrevista, desta vez com Gustavo Piqueira sobre seu fanzine Metrópolis.

"Boxing Joe 2" é uma nova história do personagem de Jeronimo Souza que já apareceu na edição 5 onde mostra personagem sendo narrado como se fosse um trailer de um filme. Pois é uma colagem de momentos, contudo parece ser outra história de origem, pois na história anterior Joe é um menino da Nova Zelândia que nasce sem braços e pernas sendo depois abandonado pela mãe, enquanto aqui é o neto de Gorbachov que é um anão que devido a uma doença procura por próteses superavançadas. Por fim temos um quadrinho de duas páginas na linha existencial falando sobre o consumismo desenfreado e uma arte ótima de contra capa de Mestre Shima, num clima noir violento. No geral, a história que mais me agradou foi a primeira e a última, quanto as demais foram medianas. As imagens de capa e contra capa foram as que mais me agradaram até aqui.

Ficha Técnica:
"Silyx: A semente da vida": Adão de Lima Júnior.
"Enigma: Acerto de contas": História de Marcelo Tomazi, Arte de João Paulo Vieira e Letras de Alex Doeppre.
"Mandato de uma nova lei": Léo Ramos.
"Boxing Joe 2": História de Jerônimo Souza, Arte: Jonathan Pires e Letras de Alex Doeppre.
"Placebo": Anderson Ferreira.
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terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Resenha #119 - Rio: Zona de Guerra (Léo Lopes)


Rio: Zona de Guerra é um cyberpunk brasileiro que usa o Rio de Janeiro como cenário para pintar o futuro clássico cyberpunk, onde a alta tecnologia e a baixa qualidade de vida, contudo a separação entre o morro e o asfalto do Rio de Janeiro atual é extrapolada. Nesse futuro próximo a Zona de Guerra é o local onde os mais pobres moram, onde não há Estado e apenas a lei das gangues existe por lá, enquanto a porção rica vive em uma muralha ultravigiada.

A história segue o detetive particular Carlos Freitas que vive na Zona de Guerra, por sua vontade, mesmo podendo habitar a área rica. Após o aparente suicídio de uma mulher, Freitas recebe uma proposta de trabalho de Vivian, uma Femme Fatale, que era amiga da mulher que foi morta. Então, Freitas consegue um passe livre para dentro da zona fortificada e sua investigação vai se chocar com os interesses de uma das megacorporações que domina a cidade.

Ao longo da jornada de Freitas temos muitas cenas de ação, dando um ritmo frenético para o livro, ao longo do mistério que é bom quando caminha para a resolução, o livro é bastante divertido e bom como um filme de ação. Logo, não é tão profundo nas suas reflexões e combinado com o uso de clichês deixam a obra mais rasa do que o suficiente para que ela se leve a sério. No mais Freitas parece deslocado e a vida em um bairro pobre não ganha cores no livro, a população negra na obra é, infelizmente, um clichê coadjuvante ruim e mal feito, sendo que a parte rica foi bem melhor escrita. Isso desequilibra a obra como uma boa obra cyberpunk, mas ainda assim é um excelente livro de ação.






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terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Resenha #118 - O Homem Invisível (H. G. Hells)


O Homem Invisível (1897) de H. G. Wells é um dos clássicos da ficção científica que imortalizou o autor como um dos seus expoentes, ao lado de Mary Shelley e Júlio Verne. A obra é cheia de ação e uma imaginação fora do comum, que é a característica mais importante de um bom escritor de ficção científica.

A história foi publicada em capítulos semanais num jornal inglês. É de se esperar que essa forma busque construir uma expectativa, alimentando o mistério do homem cheio de bandagens, luvas e óculos escuros que se instala numa pousada no vilarejo de Iping, na Inglaterra. O homem é desmascarado e empreende uma fuga que o coloca contra a sociedade. 

Podemos dividir a obra em duas partes. Na primeira, vemos como a sociedade despreza o diferente, mesmo que esse não faça mal algum a eles. Vemos isso pelo olhar dos habitantes do vilarejo com o reservado homem. O homem invisível toma a palavra apenas a partir da metade da obra, onde conta em retrospecto como ficou invisível e seu caminho até o vilarejo de Iping e uma perseguição após esse relato que é recheada de ação. Nessa segunda metade a reflexão deixa de ser sobre a sociedade hipócrita que julga um homem por ser diferente e passa a do homem que faz uma experiência e ganha um poder que o corrompe. Nesse ponto a obra perde consistência pois acaba validando exatamente o que criticava no início, ainda que o questionamento que passa a ser feito seja bastante válido. 

Hells usa a imaginação nas suas descrições das implicações práticas de ser invisível e sua escrita é muito direta o que mostra uma opção em privilegia uma boa história, cheia de criatividade. Os primeiros leitores dessa história leram um capitulo por semana, o que deve ter gerado uma expetativa imensa do público. Ler a obra foi como maratonar uma série na Netflix e se eu pudesse reler (sem saber do mistério, obviamente) faria com as leituras semanais. Quem sabe numa próxima obra de Hells. De qualquer forma recomendo.
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terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Resenha #117 - A Invasão Divina (Philip K. Dick)


"A Invasão Divina" (1981) é a segunda obra da trilogia VALIS de Philip K. Dick, onde ele aplica na forma de ficção os conceitos em VALIS, usando personagens que encarnassem sua forma de enxergar o divino numa ficção científica muito fora do comum.

A história segue Emmanuel, um menino de dez anos que frequenta uma escola especial onde conhece Zina. Uma menina mais velha que guia Emmanuel em sua jornada para sua verdadeira essência. Ele é deus reencarnado para uma batalha do bem contra o mal. Ele foi trazido a Terra por Herb Asher, do distante planeta de metano CY30-CY30B, quando ajudou Rybys a conseguir tratamento para um câncer terminal, enquanto estava grávida de Emmanuel ainda virgem. 

Asher também está em uma jornada própria, após sua chegada a Terra, sofre um atentado no qual Rybys morre e Emmanuel posto em uma escola interna e passa dez anos em estado criogênico. Congelado, mas consciênte Asher reviveu o seu tempo, diversas vezes, nos domos CY30-CY30B de com Rybys desde que é forçado por Elias Tate a ajudá-la até o atentado.

Emmanuel e Zina, representam a divindade conforme a exegese de Horsolver Fat em VALIS enquanto a Asher é obviamente o próprio autor vivendo em camadas de realidade sem saber se existe uma que não seja um simulacro, sofrendo de visões e buscando salvação em sua musa inspiradora. Dick volta a usar de mais literatura e discrição para expor sua exegese usando personagens ao invés de apenas trazer conceitos, como fez em VALIS, o que fez sua visão ficar precisa mas não teve o peso emocional da história da ruína de Horselover Fat. Assim como seu predecessor, continua sendo uma obra que necessita de um conhecimento prévio de teologia, sendo que aqui Dick usa mais a Tora judaica que a Bíblia cristã. Recomendo a obra para leitores avançados em Philip K. Dick ou, ao menos, para quem já leu VALIS para não ficar de fora das referências.  
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terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Resenha #116 - Guerra do Velho (John Scalzi)


Vamos começar o ano de 2020 falando de um livro ideal pra ler nas férias, se você quer algo rápido e divertido. "Guerra do Velho" (2016) é o primeiro de uma bem sucedida saga de Ficção Científica space opera militar, que bebeu assumidamente do clássico "Tropas Estelares" de Heimlein, mas com uma proposta bem mais leve buscando entreter o leitor, o que faz bem. 

A história acompanha John Perry que aos 75 anos alista-se no Exército de Defesa Colonial, que atua em vários planetas da galáxia. Para os habitantes da Terra, tudo entorno de como esse exército atua é envolto de mistério. Qual a utilidade de idosos de 75 anos para um exército? Que tipo de tecnologia utilizam? Até se alistarem eles podem apenas deduzir e o autor conduz essa curiosidade pelo ponto de vista do protagonista e responde todas essas dúvidas e joga o leitor em ação frenética, onde Perry se mostra um excelente soldado, além disso consegue trazer mais mistérios ao longo da trama.

A construção de mundo é bem interessante e faz querer conhecer mais sobre as diversas criaturas inteligentes que vivem na galaxia, porém a ação frenética não deixa espaço para qualquer debate mais profundo sobre o que é ser humano. Indústria da guerra e dilemas existenciais são apenas tangenciados, deixando bem evidente que o livro é feito para divertir. O mesmo vale para o aprofundamento dos personagens. Eles são bem rasos mesmo, e o fato de que alguns não vivem muito, não me serve de desculpa pois Perry é apenas um bode expiatório para nos apresentar o mundo bem construído. Ainda não sei porque não virou filme, pois a sequência de acontecimentos é linear, de fácil compreensão e tem boas cenas de ação. Pronto para virar filme. Recomendo para quem já sabe o que esperar da obra.
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